Você já viu o novo Kia Sportage na rua? A resposta provavelmente será negativa, pois restrições na produção impediram a fabricante de vender altos volumes do modelo, cuja fila de espera anda grande nas concessionárias. Mas quem viu não esquece. Desenhado pelo alemão Peter Schreyer, o Sportage não nega a nacionalidade de seu criador.
Com visual agressivo e ousado, a nova geração do utilitário esportivo da Kia não passa batida nas ruas. No que depender da Kia, mais Sportage vão circular pelo país. O modelo faz parte das ambiciosas metas de crescimento da marca. Só com o modelo a fabricante quer vender mais que o dobro do ano passado, chegando a 16 mil unidades até dezembro. A Kia do Brasil também prometeu regularizar e aumentar o volume de importação do modelo.
O novo Kia Sportage: procura maior que oferta das revendas
Logo de cara dá para ver que a Kia aprendeu com os erros passados. De desenho previsível, o Sportage de segunda geração sofreu com a concorrência do "irmão" Tucson, cujos comerciais agressivos transformaram o modelo no queridinho do segmento. O modelo da "azul" (como a Kia define a compatriota) mudou e virou o ix35, mas o Sportage não seguiu o mesmo caminho.
Enquanto o Hyundai aposta nas já repetitivas linhas angulosas espalhadas pela carroceria, o Kia optou por um desenho mais moderado – mas não conservador. Ex-designer da Audi, Schreyer deixou o Sportage com uma "cara de mau", ao melhor estilo germânico. Agora só dá para ver as semelhanças dos dois modelos sob a carroceria. Mais especificamente, sob o capô.
Isso porque o 2.0 16V de 166 cv (cavalos) é o mesmo em ambos, assim como a transmissão, manual de cinco velocidades ou automática de seis. Mas a cabine é completamente diferente. Tão bem acabado quanto o do ix35, o painel do Sportage aposta em linhas mais quadradas, com um discreto LCD no console central e comandos do ar-condicionado posicionados na parte inferior. Nesse ponto o Sportage fica aquém do ix35, mas ao menos ganha em personalidade.
Lanternas traseiras de design original chamam a atenção nas ruas
Mas é algo que infelizmente não ocorre na hora de dirigir o Kia. O volante de diâmetro menor do que o usual é o único item que remete ao "esportivo" da sigla SUV. Os moderados 166 cv do motor não mostram disposição para empurrar os 1.500 kg do modelo ladeira acima, principalmente na versão automática. Quando o sistema decide reduzir uma marcha, já pode ser tarde para iniciar uma ultrapassagem.
A letargia do trem de força é acompanhada pela direção hidráulica leve e suspensão (independente nas quatro rodas) macia. O inusitado é que, quando equipado com as rodas de 18 polegadas, o Sportage fica mais duro em pisos irregulares, mas a maior rigidez dos pneus de perfil baixo não é compensada nas curvas, situação em que a carroceria oscila tanto quanto no ix35.
O fato de o controle de estabilidade e airbags laterais e de cortina só serem oferecidos nas três versões mais caras não ajuda. A contrapartida é que os freios mostraram-se muito eficientes, evitando o acionamento do ABS mesmo em frenagens mais bruscas, como foi observado durante o test-drive do modelo, realizado porInterpress Motor em um percurso de 135 quilômetros entre Piracicaba e Itu (SP).
Sóbrio interior do utilitário; versão manual é mais fácil de achar
Durante o teste, um dos jornalistas afirmou que seria impossível distinguir os modelos sul-coreanos caso o motorista fosse vendado. A falta de personalidade dinâmica do Sportage faz com que o SUV, assim como o ix35, seja inferior a Tiguan e CR-V. O diferencial do Kia em relação ao seu irmão e, principalmente, aos seus concorrentes, se faz em outro ponto.
Como o ix35, o Sportage é oferecido com diversos itens de série. Felizmente sem os adjetivos usados pela Caoa para os pacotes de equipamentos (sempre variações da palavra “completo”) e, principalmente, sem os preços. Com o esperado para o segmento, a versão de entrada tem ar-condicionado (manual), direção hidráulica, trio elétrico, airbag duplo, ABS (antitravamento), encosto de cabeça ativo e sensor de estacionamento por R$ 83.900.
Por menos do que a Hyundai cobra pelo ix35 mais barato – e manual –, a Kia oferece o Sportage automático (R$ 87.900), que pode agregar mimos como ar-condicionado digital, controle de estabilidade, bancos de couro e rodas de 18 polegadas por R$ 97.900. A tração integral é oferecida na versão de R$ 103.400, enquanto a nova moda de tetos-solares panorâmicos é atendida no Sportage topo de linha, de R$ 105.900.
Bem, o que isso resulta na prática é um SUV compacto bem equipado, espaçoso e com preço inferior ao dos concorrentes equivalentes. Se o CR-V é até mais aconchegante (principalmente para quem vai atrás), o Sportage tem design mais ousado. O Tiguan é mais divertido de guiar, mas também é menor. Em resumo, o principal concorrente do Sportage é o ix35, mas a Hyundai facilitou a vida da Kia ao posicionar o preço do novo Tucson muito acima de seus rivais.
Desenho marcante é quase pré-requisito para um carro fazer sucesso no Brasil, como mostraram os novos Gol, Uno e Civic. Mas o Sportage vai além do visual, com custo-benefício, espaço e acabamento equivalentes e até superiores ao dos seus concorrentes.
A Kia já aprendeu a vender (muito) e vai repetir a receita de sucesso em todos os seus modelos. Com essa bem acertada mistura de Ásia e Europa, o Sportage tem tudo para ser cada vez mais visto nas ruas brasileiras.